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Explorando o Mundo Interno segundo Melanie Klein

Em 30 de março de 1882, há exatos 133 anos, nasceu a psicanalista Melanie Klein, na cidade de Viena. Seu caminho como psicanalista começou sob a orientação de Sandor Ferenczi, que a encorajou a desenvolver o trabalho analítico com crianças. Pioneira nessa área, Klein criou métodos e formulou importantes e inéditas teorias sobre o atendimento de crianças. Em 1926, tornou-se membro da “Sociedade Britânica de Psicanálise”. Até hoje, seu trabalho tem enorme prestígio e suas contribuições à Psicanálise Infantil, como criadora dessa modalidade clínica, são inegáveis.

8/23/20249 min ler

Introdução ao Mundo Interno

Melanie Klein, uma das figuras centrais na psicanálise, trouxe uma perspectiva única sobre a estrutura interna da mente humana. Segundo Klein, o mundo interno é um espaço povoado por objetos internos, carregados de pulsões, instintos, funções e relações. Esta concepção tem importantes implicações para a compreensão das dinâmicas psíquicas e das relações interpessoais.

Vida de Melanie Klein

Klein introduziu a noção de objetos internos como elementos fundamentais na vida psíquica. Esses objetos podem ser totais ou parciais e representam figuras internalizadas, que podem incluir aspectos de pessoas significativas na vida do sujeito, como pais ou cuidadores. Essas representações internas são carregadas de ambivalência e emoções intensas, influenciando significativamente o comportamento e as relações interpessoais.

Suas obras foram reunidas em 4 grossos volumes , publicados na International Psycho-Analytical Library. Melanie Klein procurava aprofundar as suas ideias de acordo com um ângulo de visão estritamente pessoal; a sua perspectiva era mais intuitiva , subjetiva , mesmo artística, do que metódica e discursiva.

A sua intenção não era convencer ou conquistar adeptos para seus pontos de vista, ao contrário de Freud que apreciava as exposições didáticas e sistemáticas o que levou a escrever longas obras sobre vários assuntos.

Os trabalhos de Melanie Klein são na sua maioria curtos e condensados . Raramente escreveu trabalhos com intuito de divulgação.

Melanie Klein nasceu em Viena , 30 de março de 1882 e morreu em Londres em 22 de setembro de 1960.

Família judaica , paterno e materno. O pai , vindo de um meio ortodoxo judeu, fora treinado para se tornar um estudioso Talmud. Mas aos 37 anos revoltou-se foi estudar na Universidade e tornou-se médico. Aos 44 anos , casou com uma jovem de 25 anos do qual teve 4 filhos. Melanie era a mais nova dos 4 filhos.

A sua infância e juventude foi entristecida pela doença e morte de dois dos seus irmãos . Primeira pela sua irmã Sidonie, aos 9 anos quando Melanie tinha seus 5 anos.

Sidonie esteve acamada durante 1 ano e passou grande parte desse tempo procurando ensinar Melanie, transmitindo-lhe o que sabia de seus conhecimentos. Melanie recebeu com gratidão e aos 5 anos aprendeu a ler e escrever .

Mais tarde ocorreu com seu irmão Emanuel, tinha uma doença cardíaca . Faleceu aos 25 anos. Rapaz dotado, interessado em artes, literatura e música, com talentos incipientes de escritor e pianista, procurou encorajar em Melanie um interesse pelas artes , onde persistiu pela vida toda esse interesse em Melanie.

Apelido de Melanie de solteira era Reizes, o mesmo que seu pai.

Casou-se com engenheiro químico Arthur Klein, aos 21 anos. Tiveram 3 filhos.

Entrou para a Universidade para estudar Medicina, passou para Artes e Historia e nunca terminou nenhuma delas.

A família viajava muito devido a profissão de Arthur Klein, tendo-se estabelecido em Budapeste um pouco antes da eclosão da I Guerra Mundial.

Tendo lido, por acaso um livro de Freud, começou seu interesse em Psicanalise e fez analise com Ferenczi durante vários anos.

O seu primeiro trabalho foi apresentado Á Sociedade Psicanalítica de Budapeste em 1919 e publicado em 1921 - O Desenvolvimento de uma Criança.

Em 1921 , Arthur Klein foi para Suécia e Melanie , com seus filhos ficou em Berlim. Esta separação acabou por levar a um divorcio em 1923, não tendo nunca Melanie voltado a se casar.

Em Berlim continuou a tratar de crianças, tendo como seu primeiro caso um menino de 5 anos que exprimia as suas angustias e fantasias utilizando brinquedos.

Ela tentou interpretar o que ele dramatizava através do seu brincar, segundo uma técnica próxima da utilizada por Freud para analise dos sonhos. Estava assim descoberta a analise do brincar das crianças a qual será exposta sistematicamente no livro A Psicanalise das Crianças 1932.

A principal constatação que resulta do trabalho desta época berlinesa é a importância do impulso agressivo na vida mental da criança e riqueza do material simbólico que o brincar manifesta.

Em 1926 foi convidada por Ernest Jones para se instalar em Londres, para divulgar entre os analistas ingleses o seu método.

Por volta de 1930, começa a analisar crianças e adultos, e o seu trabalho expande-se apresentando novas hipóteses num campo mais teórico do que técnico.

Propõe a opinião de que no EU da criança se estabelece um mundo de objetos internalizados, que por um jogo complexo de introjeção e projeção vai moldar as percepções do mundo externo e vai ser moldado por elas.

Devido a forte agressividade que a criança vive, o EU é abalado por fortes angustias do tipo psicótico, que caso não sejam tratados, são o ponto de regressão das psicoses na idade adulta da vida.

Certas figuras internas de caráter persecutório dão origem a um SUPER -EU precoce, diferente do SUPER- EU , herdeiro do Complexo de Édipo , descrito por Freud. O próprio Complexo de Édipo é visto depois pelo estudo direto da criança , como tendo uma instalação mais precoce do que foi indicado por Freud. A sua aparição segue de perto o desmame, em geral feito por volta dos 6 meses de idade, quando começam a aparecer os primeiros dentes.

De 1935 a 1946 Klein publica três dos seus mais importantes trabalhos, em que vai marcar uma modificação importante dos seus pontos de vista. Uma contribuição para Psicogênese dos Estados Maníaco Depressivos (1935), O Luto e as suas Relações (1940) e Notas sobre Alguns Mecanismos Esquizoides (1946). São trabalhos pouco extensos ( cerca de 30 paginas cada um ), embora continuando na linha de investigação de Freud e Abraham foram considerados afrontosamente heréticos e revolucionários.

Com isso Melanie Klein empregou o termo "posições" em vez de estágios de desenvolvimento, é usado para indicar que se trata de fases que não são nunca completamente ultrapassadas; o que também era um pressupostos, embora de modo menos explícitos, da teoria psicanalítica anterior.

As duas posições são marcadas por angustias específicas, por mecanismos psíquicos bem diferenciadas, que até Melanie Klein não tinha sido claramente descritos.

A) Posição Esquizo-Paranóide_ predominante durante os 3 a 6 primeiros meses de vida, com impulsos destrutivos, angustias persecutória e tendência para a clivagem e identificação projetiva.

B) Posição Depressiva_ sobrepondo-se a anterior, com integração da mãe num objeto total, angustia do tipo depressiva, tendência para utilizar cada vez mais o mecanismo de reparação, que está na base das relações objetais estáveis e das sublimações.

Nas posições de Klein, como se vê , não está só implícita a libido , mas igualmente a sua combinação com os impulsos agressivos.

Está época de vida de Klein , sendo a mais criadora , foi também aquela que esteve pessoalmente sujeita a maior stress e desgastes.

Por um lado desgostos de natureza familiar. Em primeiro lugar morre-lhe o segundo filho, num acidente de alpinismo (1934). A sua filha mais velha , Melita, formada em medicina e futura psicanalista , depois de uma analise com Edward Glover , incompatibiliza-se com a mãe.

Nessa época começam a chegar a Londres os analistas vienenses, forçados a exilar-se pelas perseguições anti-semitas dos nazistas.

O grupo vienense estabelecido em Londres vem a ser encabeçado por Ana Freud, com todo o carisma do nome paternal. Ana Freud, que também envereda pela análise infantil, afirmava a impossibilidade de empregar uma técnica analítica pura para as crianças ( como queria Klein) , e defendia a utilização de determinadas influencias de ordem sugestivas e educativas. Além disso mantinha para o desenvolvimento da criança toda a cronologia estabelecida por Freud, a partir do trabalho executado com adultos.

Este grupo Ana-freudiano procura retirar a Klein o apoio que até então tinha alcançado da maioria dos psicanalistas ingleses, e de inicio parece conseguir.

Em torno de Klein , fica um grupo limitado de Kleidianos . Contra ela constitui-se uma oposição que procura demonstrar que as suas inovações são heresias semelhantes às de Adler, Rank, Steckel e Jung, que acabarão por arruinar o edifício da Psicanalise se não se decretar a sua condenação.

A cisão entre Ana-freudianos e Kleidianos é evitada , a muito custo devido ao espirito de compromisso de Jones e dos analistas ingleses, e convém também acentuar , devido à serenidade de Melanie Klein , que sem recuar um passo nas suas opiniões , praticamente não responde ao grupo rival. Na verdade, nunca se sentira em desacordo com a posição freudiana . O seu fito nunca fora contestar as descobertas de Freud , mas apenas se vira forçada a alargá-las devido a aquisição de novos dados de observação.

A controvérsia acalmou-se por volta de 1946. A luta travada tinha sido inglória para os discípulos de Ana Freud, pois quase todos os analistas ingleses tinham sido contagiados pelo vírus Kleinianos. A própria Ana Freud viria a aproximar-se , em certo grau, das posições Kleinianas, com o decorrer dos anos.

A partir de 1946 a influencia de Melanie Klein deixou de estar limitada à Grã Bretanha, se espalhando na América do Sul, América do Norte, em todas as Sociedades Psicanalíticas.

Nos seus últimos anos Melanie Klein continuou a publicar trabalhos importantes: 1957- Inveja e Gratidão, 1961- Narrativa de uma Analise Infantil, que apareceu após sua morte.

Melanie Klein ,usando brinquedos através dos quais as crianças podiam manifestar os seus desejos e fantasias, o desenhar, e de uma forma geral o brincar da criança , tornou acessível o mundo psíquico das crianças. A sua técnica era aplicável a partir da idade de 2 anos e meio até as épocas em que a verbalização era já possível, como nos adultos.

Um dos resultados teóricos mais importantes que a nova técnica trouxe , foi mostrar que a criança adoece mais precocemente do que supusera Freud.

Cabe a Klein o mérito de ter pela primeira vez posto em relevo a vinculação prematura da criança à mãe, independentemente das relações que ela virá a estabelecer mais tarde com o casal formado ,pela mãe e pai.

A noção de posição depressiva de Klein foi confirmada por muitos dados de observação recolhidos por autores não Kleidianos.

Mais difícil é demonstrar a existência esquizo-paranoide . Não há duvida que a criança vive inicialmente estados afetivos desintegrados (esquizoidia), que tende a mostrar uma agressividade e raiva por vezes intensa em face de frustrações , que projeta sobre o mundo exterior a causa e razão dos prejuízos sofridos.

A criança considera "maus" uma mesa, uma pedra, uma pessoa com quem chocou ou se magoou , por inadvertência própria. Mas poderá objetar-se que esses fenômenos não são tão sistemáticos como Klein os descreveu, e que a criança só vive no mundo atemorizador que esta pintou para os primeiros meses de vida, caso lhe faltem os cuidados maternais adequados.

Klein, em seu trabalho sobre O Desenvolvimento do Funcionamento Mental de 1958, admitiu que as figuras terríficas descritas para a fase esquizo-paranoide ficariam clivadas do EU e SUPER-EU, para serem apenas ativadas em casos em que o curso do desenvolvimento fosse gravemente alterado, por fatores internos ou externos.

A fase depressiva , descrita no livro A Psicanalise das Crianças (1932) evolui desde o período anal até a puberdade.

No trabalho de 1952, Algumas Conclusões Teóricas sobre a Vida Emocional do Bebe, todo o problema da posição depressiva é resolvida no primeiro ano de vida da criança. Esta prematuridade atribuída às suas posições descritas por Klein, parece uma reconstrução um pouco arbitraria.

O seu interesse pela infância foi provavelmente devido às provações e lutos sofridos sucessivamente em épocas particularmente sensíveis do seu crescimento. A longa analise didática efetuada com Ferenczi e depois com Abraham, deve-lhe ter despertado a atenção a riqueza e precocidade de muitos sentimentos que a criança atravessa.

A posição depressiva por ela descrita, terá sido uma experiência sentida profundamente, na sua própria evolução.

A depressão infantil que podemos supor em Klein, estaria ligada a noção que a própria agressão teria provocado onipotentemente a doença ou a morte de pessoas queridas. Ou perante a situação de abandono, que deve ter sentido com essas mortes , terá auto limitado a sua agressividade , sentida como daninha.

Apesar de objeto de muita frustração , nunca Klein reagiu com violência.

PALAVRAS DE MELAINE KLEIN.

  • " EMBORA POSSA SER MUITO GRATIFICANTE, MAIS TARDE NA VIDA, EXPRIMIR OS NOSSOS PENSAMENTOS E SENTIMENTOS A UMA PESSOA QUE NOS COMPRRENDA, CONTINUA A EXISTIR EM NÓS UMA ASPIRAÇÃO A UMA COMPREENSÃO SEM PALAVRAS".

Considerações Finais

O trabalho de Melanie Klein oferece uma visão profunda e multifacetada do funcionamento interno da mente humana. Compreender que o sujeito vive constantemente em uma interação dinâmica com seus objetos internos, sejam eles totais ou parciais, nos permite acessar uma compreensão mais rica das motivações e conflitos internos. Klein deixou um legado duradouro que continua a influenciar a psicanálise e a psicoterapia contemporânea.